21 novembro 2017

O QUE ELES NÃO DISSERAM

Quando eu finalizava meu livro Pepino e farofa – aventuras culinárias resultantes de 50 anos de inexperiência culinária – pesquisei inúmeros versos de livros e observei que continham frases elogiosas publicadas por grandes jornais ou ditas por pessoas famosas ou destacados autores literários.
— O que fazer?
Como anônimo, usei a criatividade e inseri frases de famosos com o título

O QUE ELES NÃO DISSERAM
Carlos Drumonnd de Andrade – No meio de Pepino e farofa havia inteligência. Havia Inteligência no meio de Pepino e farofa.
Napoleão Bonaparte – Do alto de Pepino e farofa 50 anos de inexperiência culinária vos contemplam.
Ernesto Che Guevara – Hay que ler Pepino e farofa, pero sin perder la ternura jamás.
Dorival CaymmiQuem não gosta de Pepino e farofa, bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou totalmente lelé.
Antoine de Saint-Exupéry Pepino e farofa é eternamente responsável por aquilo que cativa.
William Shakespeare – Há muito mais coisas em Pepino e farofa do que pode sonhar tua vã filosofia.
Cristóvão Colombo e Pedro Álvares CabralHumor à vista.
Neil Armstrong Um pequeno livro para o homem, um grande livro para a humanidade.
Charles de GaullePepino e farofa não é um livro sério.
Jânio Quadros – Li-lo porque qui-lo.
Esfinge – Leia Pepino e farofa ou te devoro.

Bônus:
Frases que não couberam no verso do livro que inicialmente se chamaria Aventuras Culinárias:

Dom Pedro de Alcântara - Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que leiam Aventuras Culinárias.
Frederick Taylor - O livro certo, no lugar certo e na hora certa.
Vinícius de MoraisOlha que coisa mais linda, mais cheia de graça é Aventuras que vem e estilhaça no doce balanço caminho do lar.
Chico Buarque de Holanda- Estava à toa na vida, o meu amor me chamou pra ler  Aventuras contando coisas de humor.

Pepino e farofa — R$ 30,00 , inclui dedicatória e postagem nacional.

Contato por e-mail r-klotz@uol.com.br ou inbox no Facebook

14 novembro 2017

Guarujá revisitada



Voltei à Enseada depois de 44 anos. Mudou tudo. Não pertenço mais àquele lugar. Continua linda, mas é outra.

Antes de ir, visitei pelo Google maps todos os cantos da minha memória praiana de 1954 a 1972.

Emotivo que sou, chorei de montão ao recordar. Futebol na praia. Esqui. Jacaré. Guerra de areia. Nadar até o Samambaia. Sinuca. Primos, vizinhos, paqueras. Sorvetes. Johnny Rivers. Dançar coladinho. Liberdade.

As imagens da Internet e o espelho comprovaram que o tempo passou.

 Quando pisei naquela praia, não nos emocionamos, ela não me reconheceu.

Só mais tarde, deitado na areia, de olhos fechados ouvi o mar conversando comigo. Nós nos reconhecemos. Aí sim, nos abraçamos com força.




07 novembro 2017

Pílulas contra o mau humor


Eu estava na sala dos estagiários. Eram nove horas da manhã quando José Geraldo entrou. Passou direto pela secretária, por seus dois colegas de trabalho e dirigiu-se à sua mesa.
— A idiota da faxineira esqueceu a garrafa de álcool na minha mesa. Ó, mulherzinha avoada!
Pedro, vizinho de mesa, suavizou.
— Bom dia! Ainda é bom costume cumprimentar. Em vez de ofender a dona Antônia, deveria ligar para ela, agradecer por ela ter limpado seu espaço e informar que guardou o produto de limpeza.
— Tá de caso com ela?
— É impressionante como você começa o dia de forma grosseira, desrespeitosa, mal-humorada e sem educação.
José Geraldo, ignorando a observação: — Já leu o jornal?
Pedro vira a página. — Não, ainda não terminei de ler.
José Geraldo, sem nenhum constrangimento, enfia a mão no meio da leitura de Pedro e puxa o caderno de esportes.
— Peraí! Eu ainda não li esse caderno!
— Que egoísmo, você é incapaz de ler tudo ao mesmo tempo. Cadê sua generosidade?
— Aposto que sua namorada dormiu de calça jeans.
— Seja criativo. Pare com suas piadinhas repetitivas. Todo dia você diz a mesma coisa!
Evitando conflito, Pedro silenciou.
Na antessala, a secretária, responsável pelo jornal, murmura palavrões imaginando a bronca do chefe ao descobrir o jornal bagunçado.

Passados dez minutos, Pedro comenta a nota policial.
— Viu só? O ladrão entrou na casa durante a madrugada, separou a televisão e o micro, depois se encheu de comida da geladeira, esvaziou uma garrafa de uísque e adormeceu no sofá.
— Como é que eu veria? A notícia está na sua mão. Você não quis me dar todo o jornal.
— Apenas comentei, tentando um diálogo.
— Diálogo? — Resmungou feito velha — Como posso dialogar com alguém que toda hora atrapalha a leitura?
Como só acontece em novelas, o figurante com a bandeja surge na hora exata para amenizar o clima de hostilidades.
— Bom-dia — diz, enquanto distribui os copos descartáveis. — O que vai ser hoje? Ovos estrelados, sucrilhos ou omelete com bacon?
— Obrigado, seu Zezinho. Tem antiácido para o Jotagê?
José Geraldo, sem tirar os olhos do caderno de esportes:
— Sirva um copo de raticida para meu colega.
Seu Zezinho caminhou em direção ao ventilador.
— Eitcha ambiente carregado... Vou aumentar a velocidade para o vento levar o mau humor.
José Geraldo olha com reprovação.
— Aumente não. Já basta o barulho insuportável das cigarras gritando nas árvores.
Como que fugindo de uma nuvem pesada, seu Zezinho empurra o carrinho para a saída. Fecha a porta, enquanto Pedro faz cara de quem está curtindo violinos da orquestra sinfônica.


— Isso que você chama de barulho é o canto das cigarras. É a perpetuação da espécie. É o anúncio das chuvas. É a mudança de estação. Já viu como os flamboyants estão floridos?
— Vai se tratar, Pedrinho! — diz, colocando o queixo sobre o ombro e piscando rapidamente os olhos. — Isso de gostar de florzinha vermelhinha é pra flamboiólas. Acho que você escorregou nalguma flor cor-de-rosa e caiu na bichice.
— É, Jotagê, se você fosse mulher, eu diria que foi mal comida.
— Outra vez você vem com piadinha manjada querendo gargalhadas. Invente! Só teletube repete a mesma bobagem vinte mil vezes e, mesmo assim, para bebês que não conseguem mudar o canal.
Pedro, mais uma vez bombardeado por José Geraldo, procura por um aliado na conversa, olha na minha direção, interrompe minha leitura concentrada.
— E aí von Silva, o que você me diz? Concorda que está faltando mulher na vida do Jotagê?
— Sei lá! Não sei e não estou preocupado com os problemas dos outros. Sei apenas que daqui a pouco o chefe vai entrar por aquela porta e perguntar o que a gente tá fazendo.
— E o que você, von Silva, está fazendo de tão importante?
— Estou cuidando do meu humor. Lendo e apreciando as imagens de um tratado sobre a saúde, manutenção e desenvolvimento do bom humor. São minhas pílulas contra o mau humor.
— Tudo o que o carrancudo Jotagê precisa na vida. O que é?

Para o meu azar, levantei a Playboy, aberta na página central, exatamente na hora em que o chefe pisou na sala.
 
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