29 novembro 2016

Nome do personagem

Estou orgulhoso com a ótima aceitação do Manual do escritor.
Recebo inúmeras encomendas do Brasil afora.


2.6.1  Nome do personagem
Os nomes dos personagens são tão importantes nos livros que às vezes pulam das páginas para a capa: Dom Casmurro, Lolita, Cinderela, Iracema, Hamlet, Ulysses.
Para os pais é difícil escolher um nome para o filho. O autor vivencia responsabilidade semelhante.
Ao nomear um personagem você o está credenciando.

► Você batiza o personagem com o intuito de representar suas características ou de reforçá-las.

Considere a sonoridade do nome, a individualidade do personagem. Evite nomes semelhantes no mesmo enredo (Os inúmeros Aurelianos Buendía de Cem anos de solidão confundiram a minha leitura!). Perceba que apelidos derivativos e contrações facilitam a vida do escritor ao esquivar-se de repeti-lo.
Na vida real jamais soube de alguém chamado Caim. Certamente nenhum pai quis atribuir a fama de assassino a um filho. Na escrita, Clara nunca será negra. Jesus é contraditório para um assassino. Apelido de bandido será sem diminutivo. Fritz não será índio, nem japonês.
Há vários com simbologia marcante: Inocêncio (inocência), Júnior (filho), Joana D’Arc (mártir), Cornélio (traído), Florêncio (afeminado), Modesto (modesto) , Ítalo (italiano), Moisés (profeta, libertador). Nem sempre as cargas são óbvias ou perceptivas. Cuidado para não utilizar um nome “gasto” com simbolismos diferentes daqueles do seu personagem.

No conto Pai contra mãe de Machado de Assis há quatro personagens:
Tia Mônica – derivativo de mono, mulher solitária;
Cândido Neves – ironia e brancura;
Clara – uma mulher branca;
Arminda – a que tem armas.

Em Vidas Secas de Graciliano Ramos há muita desgraça. Tanta desgraça que os personagens reagem como bichos. Exceto o cachorro, Baleia, que tem caráter humano. Conforme Câmara Cascudo, era comum que os cachorros fossem batizados, por superstição, com nomes de peixes – Tubarão, Piranha, Cação, Toninha – intencionando afastar a raiva, ou hidrofobia se preferir (peixe não tem medo de água).
Fabiano é o chefe da família dos retirantes. Dele há apenas a descrição modesta de ter barba ruiva e castigada pelo sol, mãos grossas e calejadas, pés duros, mostrando assim um tipo exemplar castigado pela rudeza do sertão. A característica de Fabiano é realçada pela falta de sobrenome. Como um “cabra” que sequer tem nome de família. Curiosamente Fabiano destoa no sertão. Graciliano sabia das coisas. O Dicionário Aurélio sugere sinônimos possíveis da palavra fabiano: indivíduo inofensivo e pobre-diabo.
Sinhá Vitória, a mulher de Fabiano, sonha apenas ter uma cama de varas; sofre, mas não esmorece, justificativa para o nome.
Os filhos, tão desprezíveis pelo sofrimento, tão bichos selvagens, sequer têm nomes.
Em Dona Flor e seus dois maridos, de Jorge Amado, as escolhas também são exemplares: Dona Flor, flor de pessoa, feminina e cheirosa. O primeiro marido, o malandro e vadio, só poderia ser Vadinho. O segundo marido, recatado, pacífico e respeitado farmacêutico, é o Dr. Teodoro Madureira, sugerindo religiosidade (téo) e maturidade.
Branca de Neve sugestiona inocência. Na história hollywoodiana os anões ganharam predicados do bem. No original eram sete anões como também eram sete os pecados capitais. Soneca (preguiça), o tímido Dengoso (luxúria), Feliz (gula), Atchim (avareza), Mestre (soberba), Zangado (ira) e o mudo e imberbe Dunga que invejava a fala e a barba dos outros anões.

Quadrilha – Carlos Drummond de Andrade – poema
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Observe os nomes e a relação entre eles. Leia de novo. São comuns como gente comum. Apenas J. Pinto Fernandes não tem prenome, porém dois sobrenomes, um deles evocando virilidade, por isso conquistou e casou-se. E por ter nome diferente é que não havia entrado na história.
       
A escolha, preferencialmente, deve guardar uma relação com as características dos personagens, identificação por região, etnia, profissão ou o que o autor inventar:
Sertanejos: Severino, Capistrano, Zé da Caatinga, Maria da Zefa;
Judeus: Abrão, Ester, Raquel, Moisés, Jacó, Sara;
Interplanetários: Zagt Lobxdyp, Mestre Jedi Ikrit, Spock e o irmão Sybok;
Burgueses brasileiros: Albuquerque do Porto, Junqueira do Nascimento e Silva – com sobrenomes duplos ou triplos unidos por elementos de ligação;
Índios brasileiros e norte-americanos: Acauã, Guaraci, Janaína, Pena Branca, Touro Sentado, Pequeno Lobo;
Franceses: Pierre, Jean-Marie, François, Nicole, Olivier;
Bíblicos: Sansão, Dalila, Abel, Adão, Eva, Madalena;
Marcas físicas: Cicatriz, Japa, Cabeção, Ferrugem, Loiruda.

Faça do nome uma escolha inteligente.


Peça o seu exemplar inbox ou por r-klotz@uol.com.br     apenas R$ 40,00

Nenhum comentário:

 
Search Engine Optimisation
Search Engine Optimisation