01 novembro 2016
Lançamento do Manual do escritor
Mais uma amostra do MANUAL DO ESCRITOR
5.1 Abertura
As
regras da escrita foram estabelecidas para facilitar a vida do leitor assim
como as regras do trânsito foram desenvolvidas para evitar o caos nas ruas.
Esqueça
as literatices. Crie parágrafos e recue os inícios de parágrafos.
As
primeiras linhas devem seduzir. Deve-se criar um clima emocional logo no início
da narrativa. Evite incluir informações que sobrecarreguem. Provoque a
curiosidade através de emoções como assombro, desejo, repulsa, ódio, coragem,
alegria, medo, vergonha, raiva, felicidade, orgulho, inveja. Crie uma tensão.
Metamorfose – Franz Kafka – novela
Certa
manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua
cama metamorfoseado num inseto monstruoso.
O tcheco revolucionou ao abrir a
história com uma proposta fantástica. Criou um paradigma assustador e precisou
convencer os leitores da sua verossimilhança.
Vidas secas – Graciliano Ramos – romance
Na planície avermelhada os
juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham
caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos.
Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do
rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam
uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos da catinga
rala.
Com palavras áridas, Graciliano mostrou
a falta de perspectivas da família. A grande meta a ser atingida é a modesta
sombra de um juazeiro.
O estrangeiro – Albert Camus – romance
O pensamento hesitante sobre a data da
morte materna leva-nos a questionar o amor pela mãe e a perguntar,
secretamente, por que não deveria amar a mãe.
O túnel – Ernesto Sábato – romance
Bastará dizer que sou Juan
Pablo Castel, o pintor que matou a María Iribarne; suponho que o
processo está na lembrança de todos e que não se precisam maiores explicações
sobre minha pessoa.
Dificilmente as pessoas assumem os
erros, quanto mais um assassinato. Neste caso, a provocação é que todos
conhecem a causa menos o leitor.
A humilhação – Philip Roth – romance
Ele perdera a magia. O impulso
se esgotara. Ele nunca havia fracassado no teatro, tudo o que fizera sempre
fora vigoroso e bem-sucedido, e então aconteceu esta coisa terrível: ele não
conseguia representar. Subir ao palco tornou-se uma agonia. Em vez da certeza
de que teria um desempenho maravilhoso, sabia que ia fracassar. A coisa
aconteceu três vezes seguidas, e na última vez ninguém mostrou interesse,
ninguém foi. Ele não conseguia se comunicar com a plateia. Seu talento havia
morrido.
O
romancista norte-americano comparou a instalação do fracasso de um ator à
instalação do desastre sexual masculino. Ao comparar potencializou a situação
desesperadora.
Cem anos de solidão – Gabriel García Márquez – romance
Muitos anos depois, diante do
pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela
tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era
então uma aldeia com vinte casas de pau a pique e telhados de sapé construídos na
beira do rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras
polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão
recente que muitas coisas careciam de nome, e para mencioná-las era
preciso apontar com o dedo.
A
morte sempre é chocante. Ainda mais se sabemos a hora em que ela vai ocorrer.
No exato momento do fim, procura recordar tudo o que aconteceu com as gerações
dos Buendía desde os tempos da era do gelo, numa espetacular antítese.
Ana Karênina – Leon Tolstói – romance
Todas as famílias felizes se
parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.
O
questionamento é imediato: porque infelizes?
Nota do editor:
Você se lembra do alerta: “É desastroso autores
forçarem situações para expor o resultado de toda a pesquisa realizada.”?
— Aqui há exemplos demais!
Mais uma amostra do MANUAL DO ESCRITOR
Lançamento dia 09 de novembro – quarta-feira – no Carpe Diem
da Asa Sul.
Livros só com o autor.
r-klotz@uol.com.br
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