16 fevereiro 2016

Precisamos falar sobre o Kevin

PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN
LIONEL SHRIVER
Editora Intrínseca
464 páginas
R$ 45,00


É um fantástico romance ficcional escrito em forma de sucessivas cartas como se fossem capítulos. Ao contrário das manchetes e notícias sangrentas que escorrem de jornais populares é palatável, muito bem escrito e nada superficial ao falar sobre o desenvolvimento de um serial killer.

A mãe, uma americana escreve alucinadamente cartas ao marido narrando a própria transformação de executiva bem sucedida em mãe de um Assassino sequencial. As cartas são depoimentos convincentes de angústias, sofrimentos, sentimento de culpa e inocência, acusações sofridas e punições impostas pela sociedade, além de lembranças boas e más.

Nas histórias policiais é comum sabermos de início que houve um crime e só descobrimos quem é o criminoso na última linha. Nesta história, de cara sabemos que Kevin assassinou vários colegas de escola. Aqui e em todos esses assassinatos sequencias a mãe do criminoso, os pais das crianças mortas, os vizinhos, os professores, os juízes e toda população mundial quer saber o por quê.

Tentando entender a razão a mãe relembra a vida do menino desde antes do nascimento até o dia da barbaridade. Nas longas cartas demonstra que há uma somatória de atos, como numa queda de avião, que sozinhos não provocariam o desastre, mas que somados fatalmente levam à tragédia.

A mãe, que questiona a própria culpa apesar da condenação implacável da sociedade, mostra como qualquer família pode a qualquer tempo, aparentemente, sem mais nem menos, gerar um filho assassino. Isto é, com verossimilidade e altas doses de ironia a situa e identifica o leitor como pai ou mãe do personagem assassino.

Em todas as histórias ficcionais há momentos em que identificamos passagens que poderiam ser autobiográficas, ou seja, verídicas e que se passaram com o autor. Mas em um livro chocante e mórbido como este, será que há alguma semelhança entre criatura e criador? Afirmo que sim. Não me refiro a nenhuma crueldade. O perverso Kevin Khatchadourian e a premiada Lionel Shriver planejaram detalhadamente e dissimularam suas ações. A autora foi incrivelmente capaz de posicionar as cartas apresentando um episódio cada vez mais comprometedor. Em vez de nominar os capítulos com títulos enumerando perversidades batizou-os com datas como se fossem meras cartas sequenciais. Nada mais camuflado. Em muitas das passagens a autora conseguiu me chocar com as atitudes sádicas do protagonista. Apesar de sabermos desde o início aonde a história iria chegar, fui surpreendido várias vezes, principalmente com o final.

A história é densa e tensa, envolvente e emocionante. Muitas ações e histórias paralelas constroem um romance para ser lido em um só fôlego, sem interrupções. Não é à toa que recebeu elogios da crítica internacional e desponta entre os grandes best sellers americanos. Até virou premiado filme.

As últimas 150 páginas são eletrizantes e por isso devo confessar que, por causa da leitura, adiei tarefas inadiáveis

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