14 agosto 2014

Damas turcas
Carlos Castelo
Global Editora
156 páginas
R$ 31,00

Passar a manhã sentado na antessala do ortopedista só não é estressante se você estiver bem acompanhado. Eu estava mal acomodado entre duas senhoras gordas. Segurava a minha agenda, um livro e um enorme envelope contendo as imagens da ressonância magnética dos meus joelhos. A televisão barulhenta parecia mostrar São Paulo no verão, tantos eram os chuviscos. O lugar apinhado de pacientes era comprido e estreito. Às vezes eu precisava recolher os meus pés para não ser pisoteado por alguma muleta. Tudo seria terrível se eu não estivesse acompanhado de Damas turcas. Um livro policial com cenário paulistano.

Fazer um resumo da história é muito fácil: após um assassinato brutal um investigador levanta pistas e suspeitos inusitados para chegar ao criminoso.  Em nenhum lugar do livro diz em que escola o investigador estudou, mas acredito que tenha colado grau na mesma instituição de Ed Mort e de Xangô, de Baker Street.

Todos os personagens são figuras atípicas para não dizer bizarras. O investigador da polícia, um japonês do interior de São Paulo, está sempre acompanhado do seu cachorro Preto, um improvável e dócil poodle branco. Por sentir o cargo ameaçado resolve convidar um amigo para ajudar nas investigações. O amigo, um publicitário aposentado, não entende patavinas de crimes, mas resolve levantar pistas e suspeitos aplicando o mesmo método infalível para desenvolver comerciais.

O publicitário sofre de TOC – transtorno obsessivo compulsivo – e lava as mãos e escova os dentes mais vezes que eu preciso recolher os pés na antessala do doutor.  Ele é casado com uma mulher bipolar que quando deprimida dorme e quando eufórica compra. O ajudante do investigador é um sujeito religioso que costuma saltar de paraquedas para sentir a presença de Deus.

Em vez de um crime, outros claramente relacionados se sucedem.

E, é claro, que as vítimas e os suspeitos também são figuras nada convencionais, entretanto o herói consegue desvendar o crime graças à inteligência, ao bom conhecimento cultural, à dedução e à astúcia.

Tenho vontade de contar algumas passagens engraçadas como aquela em que... mas não conto porque é falta de respeito com o autor. Mas a coceira na língua, que me desculpe o autor, eu não vou resistir. Ri de montão no momento em que o investigador, conduzido na maca por dois policiais, chega à cena do crime e dá voz de prisão.


Eu precisava contar para justificar que apesar das horas passadas na antessala do ortopedista eu ainda encontrava motivos para rir.

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