29 dezembro 2014

Metas e ações para o Ano Novo


Meta – Emagrecer 15 kg. Cortar pastéis, salgadinhos e batatas fritas.
Ação – Procurar um barzinho que sirva cenouras, rabanetes e pepinos para acompanhar a cerveja. Se não houver legumes, levar uma faca para cortar as frituras em pedaços menores.

Meta – Ser promovido na empresa.
Ação – Nem que para isso tenha que trabalhar.

Meta – Ser pontual.
Ação – Comprar um relógio novo.

Meta – Viajar para a Europa por 30 dias, atendendo antigo sonho da esposa.
Ação – Jogar mais vezes na Mega-sena.

Meta - Ser mais companheiro, amigo e generoso com a mulher.
Ação – Ir ao happy hour no máximo quatro vezes por semana e, se sobrar, levar uns quibes para casa.

Meta – Frequentar a academia de musculação.
Ação – Estudar inglês para comprar um tênis americano na Internet.

Meta – Fazer as pazes com a sogra.
Ação – Levá-la para dançar no clube dos aposentados e dançar com ela. Pagar a cerveja.

Meta – Quitar as dívidas (aluguel, empório, prestação do carro)

Ação – Pedir novo empréstimo à sogra. 

11 dezembro 2014

Sequestro relâmpago




Socorro! Como dói a minha cabeça. Filhos da mãe! Me acertaram de jeito.

Na sexta à noite, eu voltava do caixa automático com um dinheirinho para o fim de semana.  Depois de dez passos, abria a porta do meu carro quando um sujeito mal encarado apontou uma faca para mim. Apesar da minha idade, ainda sabia me defender. Chutei o braço do marginal e a faca voou longe. Em seguida levei uma pancada na cabeça. Outro bandido estava atrás de mim. Filhos da mãe!

De que adianta um carro blindado à prova de balas e de marginais quando se está fora do carro?

Não sei para onde me arrastram, nem para onde me levaram. Sei que está tudo escuro e que a minha cabeça continua a doer. E muito. Não consigo me mexer. O cativeiro é super apertado.  Um cheiro terrível de flores podres infesta o espaço. Nada ouço. O silêncio é aterrador. O gosto de sangue está entalado na garganta.  Não consigo gritar. Mexo as mãos e arranho a madeira sobre mim, tudo faz sentido.

Fui enterrado vivo.


28 novembro 2014

Mona Lisa e o relógio

Mona Lisa e o relógio

Esta semana, especialistas do Conselho Nacional de Valorização do Patrimônio Cultural e Ambiental da Itália anunciaram a descoberta de um novo detalhe na pintura da Mona Lisa: letras muito pequenas, imperceptíveis a olho nu, gravadas nas pálpebras de Mona Lisa. A novidade pode resolver um dos maiores enigmas que cercam o quadro. CB – Ciência 18/12/2010

Entra ano, sai ano, o quadro da Mona Lisa é alvo de especulações e histórias polêmicas.
Falam que o sorriso é resultado de uma gravidez ou de que havia dado à luz há pouco tempo em função do véu típico de gestantes do século XVI. Sugerem que o rosto seria um autorretrato do pintor vestido de mulher com a alegação de que o artista seria gay. O escritor Dan Brown defendeu a tese de que o nome da retratada é um anagrama para Amon l'Isa, em referência a antigas divindades egípcias. Historiadores franceses afirmam que Napoleão Bonaparte teria se apaixonado pelo quadro e que teria mandado pendurá-lo em seus aposentos. Conforme os jornais da época, Vincezo Peruggia furtou o quadro do Louvre para repatriá-lo à Itália. Os tablóides contam como ele fazia sexo com Mona. Para se opor à unanimidade, um psicopata jogou ácido sobre ela, danificando parte inferior da obra.
A relação de histórias curiosas é longa e não cabe em um único parágrafo. Por isso respire fundo antes de recomeçar a ler outras particularidades ou indiscrições.
Estudiosos afirmam que Mona Lisa, pintada em 1506, é Lisa Gherardini, mulher de um rico comerciante de seda de Florença. Já um historiador comprova que a obra foi pintada em 1489 e que a mulher por trás do sorriso famoso é Isabel de Aragão, Duquesa de Milão. Sigmund Freud interpretou o sorriso como sendo uma atração erótica subjacente de Leonardo pela mãe.
Por tantas informações e especulações resolvi ir direto à fonte. Telefonei para Mona Lisa. Não me perguntem o número. Nem sob tortura direi.
A nossa conversa foi bastante rápida. Eu mal a entendia por não falar italiano medieval. Ela estava bem humorada e disse que parecia que o povo não tinha mais o que fazer, que a deixassem em paz. Que adorava Léo, mas que jamais tivera um caso com ele. Que Léo além de pintor, escultor, anatomista, cientista e inventor também era piadista. Era maravilhoso posar para o iluste artista que contava anedotas enquanto enchia a tela de cores. Ele me perguntou se eu sabia a semelhança entre uma grávida e uma tartaruga com um relógio amarrado às costas. Como eu poderia saber se o relógio ainda não havia sido inventado?  Ele riu, dizendo que as duas não viam a hora. Daí ele inventou o relógio, depois colocou-o numa pequena caixa, presenteou-me e pendurou-o no meu pescoço. No quadro o relógio indicava cinco horas. Hora de término da sessão. Depois ele resolveu apagar o relógio do quadro, pois o mundo não estava preparado para a falta de tempo. Foi nesse clima de bom humor que pintou o meu sorriso. Apenas isso. Não há enigmas, apenas a felicidade.
Aí, acabou a bateria do meu celular.






13 novembro 2014

Figuras de linguagem



Acredito que conhecer as figuras de linguagem é fundamental para quem escreve.
Aumenta o repertório de artifícios.
Não é preciso saber o nome das inúmeras figuras – a lista é inesgotável –  basta conhecer o potencial de cada uma delas para tornar o texto mais atraente.
Chega de blábláblá (onomatopeia) e vamos ao que interessa.A lista das figuras é inesgotável.

Pensamento
Sintaxe/construção/estilo
Palavras/tropos
Harmonia (som)

Linguagem
metafóricas

Alusão
Anacoluto


Amplificação
Anáfora
Alegoria
Aliteração
Antanagoge
Anadiplose
Antonomásia
Assonância
Anticlímax
Anástrofe
Catacrese
Cacófato
Antítese
Assíndeto
Comparação
Metalinguagem
Apóstrofe
Barbarismo
Metáfora
Onomatopeia
Clímax
Diácope
Metonímia
Parequema
Comparação
Elipse
Polissemia
Paronomásia
Cominação
Epanadiplose
Sinédoque
Solecismo
Deprecação
Epanalepse
Sinestesia

Disfemismo
Epístrofe


Eufemismo
Epizeuxe


Gradação
Hendíade


Hipérbole
Hipálage


Interrogação
Hipérbato


Ironia
Inversão


Paradoxo
Parequema


Paralelismo
Pleonasmo


Parêntese
Polissíndeto


Perífrase
Silepse


Preterição
Sínquise


Prosopopeia
Zeugma


Reticência



Silogismo



Sinonímia





Figuras de Pensamento

Alusão: Apreciação indireta de uma pessoa ou de um ato, por meio de referência a um fato ou personagem conhecidos. Exige do leitor uma certa cultura para a compreensão. Ex.:  Está sob a espada de Dâmocles – representa  a insegurança daqueles com grande poder, pois podem perder a qualquer momento; O general alcançara uma vitória de Pirro significa que o exército vencedor sofreu tantas baixas que não pôde continuar a lutar:

Amplificação: explana as particularidades do assunto pormenorizadamente. A vida é o dia de hoje. A vida é ai que mal soa. A vida é sombra que foge. A vida é nuvem que voa. A vida é sonho tão leve, que se desfaz como a neva (João de Deus).

Antanagoge: (uso em retórica) quando se voltam para o acusador os mesmos motivos que lhe serviram à acusação. Só encontrei exemplos enormes.

Anticlímax: Gradação decrescente de ideias. Vide Gradação.
Antítese: (ou Contraste) Consiste em aproximar temas ou ideias opostas. Se salienta a oposição entre palavras ou ideias.  Contrariedade. O Diabo é a antítese de Deus. Buscas a vida; eu, a morte.” (Caetano Veloso);  Não há noite que não seja seguida de dia. Ele passou , mas ela viveu para mais de século.
"Era o porvir - em frente do passado, / A Liberdade -- em face à Escravidão"  (Castro Alves); "Deixa que hoje me chame eternidade!"  (Campos de Figueiredo); amor é dor que desatina sem doer. Fui comprar, vendi; quis protestar, concordei; quis chorar, sorri.
Um tipo especial de antítese é o Oximoro que liga duas ideias ou pensamentos que se excluem absurdamente como um paradoxo: amarga doçura; morte viva; sol sombrio.

Apóstrofe: Figura que consiste em dirigir-se o orador ou o escritor, em geral (e não sempre) fazendo uma interrupção, a uma pessoa ou coisa real ou fictícia: “Liberdade, liberdade abre as asas sobre nós.” (Medeiros e Albuquerque) "Deus ó Deus! onde estás que não respondes?" (Castro Alves). Este exemplo, tomado às "Vozes d'África", e constituído pelo primeiro verso do famoso poema, é prova (e outras poderiam ser dadas) de que a apóstrofe nem sempre é uma interrupção, como em nossos dicionários se lê. Veja, meu Deus e Senhor, quanta corrupção. Levai, maldito animal, levai minha dor pela ausência dela. Meninos! Hoje teremos figuras de linguagem.

Clímax: Gradação crescente de ideias. (Vide Gradação.)

Cominação: figura de advertência ou de intimidação (ameaça). O emprego deste termo erudito provém de um outro tipo de figura, o Pedantismo. “nem mais um passo, covardes. Nem mias um passo, ladrões!” (Castro Alves)

Comparação (ou Símile): semelhante ou parecido a outro. Analogia; comparação de coisas semelhantes." Usada para comparar dois elementos que não pertencem à mesma categoria. “Bateram-lhe como nunca tinham visto./ “Você é tão bonita quanto o Rio de Janeiro em maio e quase tão bonita quanto a Revolução Cubana” (Ferreira Gullar)

Deprecação (ou obsecração): (uso em retórica) Consiste numa súplica, num pedido comovente. Frequentemente nas súplicas aos entes sobrenaturais, face às calamidades ou a algo de trágico: “Perdoai-lhe, Senhor! Ele era um bravo! (Álvaro de Azevedo).

Disfemismo: O oposto de eufemismo. Em vez de hanseníase lepra ou cai carne. Fulano virou um pasto de vermes.  (Vide: Eufemismo)

Eufemismo: Ato de suavizar a expressão duma idéia substituindo a palavra ou expressão própria por outra mais agradável, mais polida. “Quando a indesejada das gentes chegar.” (Manuel Bandeira); Palavra ou expressão usada por eufemismo: Dianho é um eufemismo de diabo; Empregou o eufemismo 'descuidado' para não chamá-lo 'grosseiro'. Fulano entregou a alma a Deus (morrer). Fulano foi ter com os anjos. Fulano foi se encontrar com seus antepassados. Fulano foi ver o capim pela raiz. Passou dessa para a melhor. Hanseníase em vez de lepra. (Vide: Disfemismo)

Gradação: “Uma palavra, um gesto, um olhar bastava.” Gradação ascendente = clímax; Descendente = anticlímax. Passagem ou transição gradual: "Acabava o crepúsculo e o céu escurecia devagarinho, passando do rosa pálido e do amarelo transparente, ao lilás, ao cinza, ao roxo, ao azul-escuro, numa gradação suave" (Malu de Ouro Preto, Siri na Noite sem Lua). “Aqui... além... mais longe por onde eu movo o passo” (Castro Alves).
Mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" (Guimarães Rosa em A terceira margem do rio)

Hipérbole: (ou Auxese) Figura que engrandece ou diminui exageradamente a verdade das coisas; exageração, auxese. "Chorei bilhões de vezes com a canseira / De inexorabilíssimos trabalhos!" (Augusto dos Anjos). Exagero: Chorou um rio de lágrimas. Carregava uma montanha nos ombros. Caminhões de dinheiro. Morro de vontade de conhecer Paris. Paroxismo: Levar o personagem ao extremo ridículo.

Interrogação: (uso em retórica) trata-se de pergunta que o próprio autor responde ou cuja resposta é conhecida por todos ou ainda não cabe nenhuma resposta. A resposta está embutida na entonação da pergunta. Para onde vai esse mundo? E seus habitantes? O que será deles? O que pensam que eu sou? Maluco? Depravado? Pensa que sou idiota?

Ironia: consiste em dizer o contrário daquilo que se está pensando ou sentindo, ou por pudor em relação a si próprio ou com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem: Voltaire foi um mestre da ironia. Vejo que voltou de sua estafante hora semanal de trabalho, deputado. Ele tem a sutileza de um elefante. “A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.” (Monteiro Lobato)

Paradoxo (ou paradoxismo ou oxímoro): absurdo. É uma antítese particular. Todo paradoxo é uma antítese embora nem toda antítese seja paradoxo. O paradoxo bem construído é o de ideias: Pobre menina rica. A obsessão da velocidade e o congestionamento do trânsito são um dos paradoxos da vida moderna. “És anjo que me tenta e não me guarda.” (Gregório de Matos); Conceito que é ou parece contrário ao comum; contra-senso, absurdo, disparate: "Era um conversador admirável, adorável nos seus erros, .... nas suas opiniões revoltantes e belíssimas, nos seus paradoxos, nas suas blagues."  (Mário de Sá-Carneiro, A Confissão de Lúcio.)  Utilização de palavras ou expressões que contém verdades expressas de maneira oposta ao usual. Pela literatura, toda luta é prazer, todo sacrifício é alegria. Meus risos são lágrimas por suas mentiras (cuidado para não confundir com antítese). Estou morto e assim vivo.
Silêncio ensurdecedor, supérfluo essencial, boatos fidedignos, espontaneidade calculada, mentiras sinceras, crescimento negativo.

Paralelismo: Consiste na técnica de repetir a mesma coisa com outras palavras, na intenção de reafirmar o fato. Repetição de idéias de estrofe em estrofe. Meu grande erro foi amar você. Muito errado foi tê-la amado. Não foi nada certo amá-la.; Arrependo-me. Encho-me de arrependimentos. Amarguro-me de culpa.

Parêntese: É a imposição de uma frase no meio de outra. Pode ocorrer entre parênteses, vírgulas ou travessões. Essa mulher, refiro-me à minha irmã, é a mais generosa que já vi.; A exposição de ciências (a primeira em dois anos) atraiu pessoas de todo o Brasil. Ele entrou com dificuldade – estava cansado – e atirou-se direto no sofá.

Perífrase: sinuosidade. Designação de alguém ou de algo por construção que dê relevo a uma de suas qualidades, e não por seu nome. Ex.: a luz de minha vida em lugar de meu amor.  O poeta dos escravos chegou e todos se acalmaram. O águia de Haia levantou as sobrancelhas e começou o discurso. Em vez de Castro Alves ou Rui Barbosa. O santo dos endividados me ajudará. (em vez de Santo Expedito). Cidade maravilhosa.

Preterição: (uso em retórica) é muito usada em tribunais onde o promotor por não poder citar o passado de um réu finge que não vai dizer e já está afirmando. Ou: Se eu fosse um leviano eu diria que você é um ladrão. Como sou educado, digo que desconfio das suas intenções.

Prosopopeia: Dá vida ou qualidades humanas a seres que não têm vida ou não são humanos – “um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha” (Machado de Assis). “Os perfumes que invejam as flores.” “um frio inteligente percorria o jardim” (Clarice Lispector). (vide Personificação)

Personificação. Figura pela qual se dá vida e, pois, ação, movimento e voz, a coisas inanimadas, e se empresta voz a pessoas ausentes ou mortas e a animais; personificação, metagoge. A tempestade grita aos céus toda a sua fúria. Os céus choram por sua ausência. Os pássaros pensam que você voltará. Até as pedras derramaram lágrimas. (vide Prosopopeia)
Antroporfomização: idem, porém exige qualidade humana (não apenas vida)

Reticência: ou aposiopese Interrupção intencional no meio de uma frase; reticência.
O que se passou comigo foi... devo confessar que... não sei. É tão difícil dizer... tão difícil.

Silogismo: Dedução formal tal que, postas duas proposições, chamadas premissas, delas, por inferência, se tira uma terceira, chamada conclusão. Todo ser humano pensa; Jonas é ser humano; Logo, Jonas pensa.

Sinonímia: ou acumulação, congérie, exergásia e siantroísmo. Acúmulo de ideias ou palavras sinônimas sobre o mesmo tema. Ex.? Que queres? Que desejas? Que anseias? / Que confusão! que horror! que gritaria! Tudo era fogo e fumo, sangue e raiva! (A. Garret)


Figuras de Sintaxe (ou de construção)

por omissão
assíndeto, elipse, zeugma
por repetição
anáfora, pleonasmo, polissíndeto
por inversão
anástrofe, hipérbato, sinquise, hipálage
por ruptura
anacoluto
por concordância ideológica
silepse

Anacoluto: quebra de contexto com a introdução de uma idéia avulsa, praticamente sem relação com a frase. Consiste no emprego de um relativo sem antecedente, ou na mudança abrupta de construção; frase quebrada; Quem o feio ama, bonito lhe parece. "O forte, o cobarde / Seus feitos inveja"  [i. e., 'O cobarde inveja os feitos do forte']  (Gonçalves Dias); "tinha não sei que balanço no andar, como quem lhe custa levar o corpo"  (Machado de Assis); O pobre, não lhe devo nada. “Vocês que começaram tudo, a ira divina cairá sobre suas cabeças”.
Anadiplose: Repetição de palavra(s) do fim de um período ou oração, ou de um verso, no princípio do período, oração ou verso seguinte. "Contou muitas histórias. Histórias de lembranças." "O dia surge todo de bruma, / todo de bruma, todo de neve." "E a fonte, rápida e fria, / Com um sussurro zombador, / Por sobre a areia corria, / Corria levando a flor."
Eu cheguei tarde.
Tarde demais para desistir.
Desistir, largar tudo e fugir.
Fugir, para nunca mais voltar.
Voltar, voltar para quê, se não me queres mais?

Anáfora (ou epanáfora): repetição de uma ou mais palavras no princípio de duas ou mais frases, de membros da mesma frase, ou de dois ou mais versos; “Depois do esporte. Depois do banho. Depois de tudo.” "ela não sente, ela não ouve, avança! avança!" (Fialho d'Almeida); "Era o concurso. Era a viagem. Eram os quinhentos."  "Depois o areal extenso... / Depois o oceano de pó... / Depois no horizonte imenso / Desertos... desertos só..."  (Castro Alves); "Quase tu mataste, / Quase te mataste, / Quase te mataram!" “Amor é um fogo que arde sem se ver; / É ferida que dói, e não se sente;/ É um contentamento descontente; / É dor que desatina sem doer.” (Camões)

Anástrofe: (ou Inversão) inversão, mais ou menos forte, da ordem natural das palavras ou das orações; inversão. "Se morre, descansa / Dos seus na lembrança" "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heróico o brado retumbante" (Osório Duque-Estrada), i. e., 'As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico'. “tão leve estou que nem sombra tenho.” – estou tão leve... (Mário Quintana)

Assíndeto: Ausência de conjunções coordenativas entre frases ou entre partes da mesma frase.  Vivia, amava, sofria, chorava. Cheguei, vi, venci; É homem rico, simpático, inteligente. (é o oposto do polissíndeto)

Barbarismo: erros na escrita ou pronúncia (na pronúncia recebe o nome de silabada). Gratuíto em vez de gratuito é um exemplo. Récorde em vez de recorde. Crisantemos em vez de crisântemos. 

Diácope: Figura pela qual se repete uma palavra, pondo outra(s) de permeio. "Dargo, o valente Dargo, a quem na guerra / ninguém nunca jamais não viu as costas".Joana, doce Joana, onde foste? Pai, querido pai, empreste-me dinheiro. Volte João, maldito João, que te mato.

Elipse: Omissão deliberada de palavra(s) que se subentende(m), com o intuito de assegurar a economia da expressão. No céu um manto de estrelas. No céu (há) um manto de estrelas.  "Onde pode, põe a mão. Onde não, põe os seus olhos" (Audálio Alves); "Cheguei. Chegaste." (Olavo Bilac); Na festa (havia) tanta gente, (havia) tanta comida; nas ruas (havia) tanta fome, (havia) tanta miséria, (havia) tanta tristeza.

Epanadiplose: Emprego repetido de uma palavra no começo e no fim de um verso ou de uma frase. "Rosa a desabrochar, botão de rosa"; Todos artistas, ótimos artistas todos.
Atenção: não confunda com anáfora e anadiplose.

Epanalepse: Repetição de palavra(s) ou frase no meio de frases seguidas. Ex.:
"Divertem-nos a atenção os pensamentos, suspendem-nos a atenção os cuidados, prendem-nos a atenção os desejos, roubam-nos a atenção os afetos"; “Menina bonita, menina bonita, aonde pensas que vai?”

Epístrofe: Repetição de palavra no fim de frases seguidas. "Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia / — Assim! de um sol assim!" ; Os governos causam medo, a polícia causa medo, os irmãos causam medo.

Epizeuxe: Figura pela qual se repete seguidamente a mesma palavra, para amplificar, para exprimir compaixão, ou para exortar. "Já, já me vai, Marília, branquejando / loiro cabelo, que circula a testa" "e eu vos darei tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo..." "Nize? Nize? onde estás? aonde? aonde?";Você, você, razão da minha vida.
A diferença para a diácope é que aqui há repetição sem nenhuma palavra intermediária.
Diácope: Garota, minha garota mimada. Epizeuxe: Garota, garota mimada.

Hendíade: Figura que consiste em exprimir por dois substantivos ligados por coordenação uma idéia que normalmente se representaria subordinando um deles ao outro. Ex.: Ia andando, no sossego e na tarde, em vez de no sossego da tarde; Respirava o perfume e os campos, em vez de: Respirava o perfume dos campos. Incomoda-me o trem barulhento. Em vez de: Incomodam-me o trem e o barulho

Hipálage: Quando há inversão da posição do adjetivo ou seja uma qualidade que pertence a um objeto é atribuída a outro. “As lojas saguazes dos barbeiros...” (Eça de Queiros); "Fumar um pensativo cigarro." (Paulo Coelho); Rasguei uma raivosa folha.

Hipérbato: Inversão da ordem natural das palavras ou das orações. É uma inversão, às vezes até transgressão meio exagerada da ordem dos termos da frase. “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante.” "Do que a terra mais garrida / Teus risonhos, lindos campos têm mais flores" (Osório Duque-Estrada); "Não é que o meu o teu sangue / Sangue de maior primor."  (Alexandre Herculano)  O teu sangue não é de maior primor que o meu. “Passeiam à tarde, as belas na Avenida.” – As belas passeiam na Avenida à tarde. (Carlos Drummond de Andrade)

Pleonasmo, tautologia ou redundância: Redundância de termos que em certos casos têm emprego legítimo, para conferir à expressão mais vigor, ou clareza. “O açúcar é doce, o sal é salgado.” (Karnak); Vi com estes olhos que a terra há de comer; "Vi claramente visto o lume vivo / Que a marítima gente tem por santo" (Luís de Camões); "entraram no coche, carruagem sua especial dele."  (Camilo Castelo Branco); "A vida continua. É seu ofício dela."  (Antônio Carlos Vilaça). Reforço do óbvio. “E rir meu riso e derramar meu pranto” Vinicius de Moraes. Na grande maioria das vezes o pleonasmo é um imperdoável erro de estilo (tautologia): caminhar a pé; entrar para dentro; protagonista principal; elo de ligação; surpresa inesperada

Polissíndeto: Espécie de pleonasmo que consiste em repetir uma conjunção maior número de vezes do que o exige a ordem gramatical. “Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua.”(Olavo Bilac); "E zumbia, e voava, e voava, e zumbia."  (Machado de Assis); "Contra a destruição se aferra à vida, e luta, / E treme, e cresce, e brilha, e afia o ouvido, e escuta / A voz, que na solidão só ele escuta, -- só"  (Olavo Bilac); "Tua irmã é carinhosa, e doce, e meiga, e casta, e consoladora."  (Eça de Queirós); "O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora."  (Manuel Bandeira); "Mão gentil, mas cruel, mas traiçoeira, / Vibrou-se o golpe."  (Alberto de Oliveira); "Não é este edifício obra de reis, .... mas nacional, mas da gente portuguesa"  (Alexandre Herculano). Essa mulher que se arremessa, fria e lúbrica aos meus braços, e nos seios me arrebata e me beija e balbucia...” Vinicius de Moraes. (é o oposto do assíndeto)

Silepse: Figura pela qual a concordância das palavras se faz de acordo com o sentido ou ideia e não segundo as regras gramaticais. (Erro que pode ser justificado)
de gênero (masculino/feminino): "Admitindo a idéia de que eu fosse capaz de semelhante vilania, S. M. foi cruelmente injusto para comigo." (Alexandre Herculano); A gente está ficando velho!
de número (singular/plural): "- O resto do exército realista evacua neste momento Santarém; vão em fuga para o Alentejo." (Almeida Garrett); "Muita gente anda no mundo sem saber pra quê: vivem porque vêem os outros viverem." (J. Simões Lopes Neto); O povo aclamavam o herói; Os Lusíadas glorificou nossa literatura.
de gênero e número (rara); ex.: "Eis que começa a gente do mar a queixar-se e dar culpas a quem os fizera navegar." (Fr. Luís de Sousa);
de pessoa; ex.: "Quanto à pátria da Origem, todos os homens somos do Céu" (P.e Manuel Bernardes); "Ambos recusamos praticar este ato" (Alexandre Herculano); "Os republicanos temos cumprido o nosso dever avisando ao povo." (Antônio da Silva Jardim); "Quando Cristina acabou, todos a quisemos beijar." (Vergílio Ferreira).  Os alunos do nda somos estudiosos.

Sínquise: Inversão da ordem natural das palavras, de que resulta tornar-se obscura a frase; hipérbato exagerado. "A grita se alevanta ao Céu, da gente" (Luís de Camões), por A grita da gente se alevanta ao Céu; "entre vinhedo e sebe / Corre uma linfa, e ele no seu de faia / De ao pé do Alfeu tarro escultado bebe." (Alberto de Oliveira), em que, a começar da segunda oração, se entende: e ele bebe no seu tarro escultado, de faia de ao pé do Alfeu, (da margem do rio Alfeu).

Zeugma: Omissão de palavra ou termo que expressa anteriormente. Ele foi a pé; ela de carro.  "Vieira vivia para fora, para a cidade, para a corte, para o mundo; Bernardes [vivia] para a cela, para si, para o seu coração." (Antônio Feliciano de Castilho).

Figuras de palavras (ou tropos) 

Alegoria: (uso na retórica) é uma acumulação de metáforas referindo-se ao mesmo objeto; é uma figura poética que consiste em expressar uma situação global por meio de outra que a evoque e intensifique o seu significado. Na alegoria, todas as palavras estão transladadas para um plano que não lhes é comum e oferecem dois sentidos completos e perfeitos - um referencial e outro metafórico.
Exemplo: "A vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a orquestra é excelente..." (Machado de Assis). “Dentro de mim há dois cachorros: um deles é cruel e mau; o outro é muito bom. Os dois estão sempre brigando. O que ganha a briga é aquele que eu alimento mais frequentemente.”

Antonomásia: (ou Perífrase) Substituição de um nome próprio por um comum. O poeta dos escravos escreveu Vozes d´África. O cisne de Mântua (Virgílio); o águia de Haia (Rui Barbosa); o Poeta Negro (Cruz e Sousa); o corso (Napoleão) ou vice-versa: um nero (um homem cruel); um romeu (um homem apaixonado).  V. cognome: Virgulino Ferreira, por antonomásia "Lampião"; Edson Arantes do Nascimento, por antonomásia "Pelé";  "Informou-me da história das capelas .... o sacristão, conhecido pela antonomásia de Bucho-de-Piaba"  (Alberto Rangel, Lume e Cinza).

Catacrese: é um tipo especial de metáfora. É a metáfora gasta pelo uso – sem criatividade ou inventividade. Aplicação de um termo figurado por falta de termo próprio; abusão: pernas da mesa; mão de pilão; Embarque em avião ou trem. Embarcar é para barcos. Folha de livro/ pele de tomate/ dente de alho / montar em burro / céu da boca / cabeça de prego / mão de direção / ventre da terra / asa da xícara / sacar dinheiro no banco.

Comparação: Estabelece a aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados por conectivos comparativos explícitos - feito, assim como, tal, como, tal, qual, tal como, qual, que nem e alguns verbos parecer, assemelhar-se. A felicidade é como a pluma. Comparação de coisas semelhantes. Teus olhos são negros como as noites sem luar... São ardentes, são profundos, como o negrume do mar. (Castro Alves), Amou daquela vez como se fosse máquina. Beijou sua mulher como se fosse lógico (Chico Buarque). 

Metáfora: comparação imaginosa, com sentido subjetivo. Por metáfora, chama-se raposa a uma pessoa astuta, ou se designa a juventude primavera da vida. Exemplos: As dentadas do arrependimento, ela espetou-me seus olhos metálicos; meu verso é sangue. Ficarei calado como um túmulo.



Metonímia: Tropo (palavra)  que consiste em designar um objeto por palavra designativa doutro objeto que tem com o primeiro uma relação de causa e efeito (trabalho, por obra), de continente e conteúdo (copo, por bebida), lugar e produto (porto, por vinho do Porto), matéria e objeto (bronze, por estatueta de bronze), abstrato e concreto (bandeira, por pátria), autor e obra (um Camões, por um livro de Camões), a parte pelo todo (asa, por avião), etc. A Assembléia Legislativa sancionou a nova lei de trânsito. Gosto de ouvir Vinicius de Moraes. “Tinha, nas estantes, todos os autores nacionais.” (Lima Barreto) neste caso pretende-se dizer eu li todos autores nacionais.

Polissemia: multiplicidade de sentidos que uma palavra pode adquirir. Por isso o seu significado depende do contexto em que está inserido, pois há a possibilidade de diversas interpretações. “Como arrumar uma coroa” – numa publicidade de uma funerária. Podemos encontrar um exemplo na palavra “gato”, que possui diversos significados dependendo de sua aplicabilidade: O rapaz é um tremendo gato; O gato do vizinho é peralta; Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.


Sinédoque: Ocorre quando há substituição de um termo por outro, havendo ampliação ou redução do sentido usual da palavra numa relação quantitativa.
- o todo pela parte e vice-versa: "A cidade inteira (o povo) viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos (parte das patas) de seu cavalo." (J. Cândido de Carvalho);
- o singular pelo plural e vice-versa: O paulista (todos os paulistas) é tímido; o carioca (todos os cariocas), atrevido.
- o indivíduo pela espécie (nome próprio pelo nome comum): Para os artistas ele foi um mecenas (protetor).

Sinestesia – fusão de sensações diferentes numa mesma expressão. Essas sensações podem ser físicas (gustação, audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas (subjetivas). Um perfume que evoca uma cor, um som que evoca uma imagem, etc. "Avista-se o grito das araras." "Tem cheiro a luz, a manhã nasce... / Oh sonora audição colorida do aroma!"


Figuras de harmonia (ou de som)

Aliteração: Repetição de fonema(s) no início, meio ou fim de vocábulos próximos, ou mesmo distantes (desde que simetricamente dispostos) em uma ou mais frases, em um ou mais versos; aliteramento, paragramatismo. “Vozes veladas, veludosas, vozes.” "E fria, fluente, frouxa claridade / Flutua como as brumas de um letargo..."  (Cruz e Sousa, Broquéis); "Rara, rubra, risonha, régia rosa"  (Félix Pacheco, Poesias); "Na messe, que enlourece, estremece a quermesse..."  (Eugênio de Castro, Obras Poéticas); “Toda gente homenageia Januária na janela” (Chico Buarque). “Esperando, parada, pregada na pedra do porto” (Chico Buarque).

Assonância: Repetição de fonema. Semelhança de sons. Conformidade ou aproximação fonética entre as vogais tônicas de palavras diferentes. A lua a estrada solitária banha. “Sou Ana, da cama/ da cana, fulana, bacana/sou Ana de Amsterdam.” (Chico Buarque); “Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral”. (Caetano Veloso)

Cacófato: A boneca dela é bonita. Som desagradável, ou palavra obscena, proveniente da união das sílabas finais de uma palavra com as iniciais da seguinte; cacofonia.
A boneca dela é bonita. A vez passada. Vespa assada ou vespa frita?  Desculpe então, vou-me já, plasticozinho, palcozinho, por cada, fé de Deus, o nosso hino é bonito, a gente tinha,  o carro é dirigido pela dona Maria... Infodicas.

Metalinguagem: remete-nos a uma outra linguagem. E. Ling.  A linguagem utilizada para descrever outra linguagem ou qualquer sistema de significação: todo discurso acerca de uma língua, como as definições dos dicionários, as regras gramaticais, etc. Ex.: chover é um verbo defectivo. [Cf. função metalinguística.]
 P. ext. Linguagem mediante a qual o crítico investiga as relações e estruturas presentes na obra literária.

Onomatopeia: palavra cuja pronúncia imita o som natural da coisa significada (murmúrio, sussurro, cicio, chiado, mugir, pum, reco-reco, tique-taque). O tique-taque do relógio nos perturbava; “a fonte que bisbilha” e “regato que bisbilha” (Heli Menegale) (Bisbilhar = murmurar = sussurrar). O menino pulava quando de repente ploft! Um belo tombo. Atchim – espirro; Bang – tiro; Buá – choro;
Bum, Bum Paticumbum Prugurundum/ O nosso Samba minha gente é isso aí, bum, bum
Bum, Bum Paticumbum Prugurundum/ Contagiando a Marquês de Sapucaí

Parequema: é nome duma repetição dum som ou duma sílaba do final duma palavra e do começo de outra. O parequema pode criar cacófatos. Parequemas viciosos chamam-se colisões.
31 de dezembro / Adolescente teimoso / Ano-Novo / Cone negro / Corpo poroso / Crepúsculo longo / É bom que seja já / Erótica cacofonia / Essa é uma faca cara / Fosso social / Gado doente / Gafe feminina / Garota taluda / Grife feminina / Guilherme Melanino Nogueira / Gustava Valeriana Nascimento / Imaculada dama / Impasse sensual / Importante tempo / Infame menina / Melanina Nascimento Torquato / Menino nostálgico / O sapo fez o ataque que queria / Pato tonto / Pouco coco / Regra gramatical / Roupa parda / Saco colorido / Samba baiano / Sintagma masculino / Tabu burocrático

Paronomásia: reprodução de sons semelhantes em palavras de significados diferentes. “Berro pelo aterro pelo desterro/ berro por seu berro pelo seu erro/ quero que você ganhe que você me apanhe/ sou o seu bezerro gritando mamãe” (Caetano Veloso); “Eu que passo, penso e peço”.(Sidney Miller)


Solecismo: vem do grego e significa erro, culpa, falha. Designa erro de sintaxe, regência e colocação. Pessoa que fala mal a própria língua.




Organização por Roberto Klotz em 13/11/2014

 
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