05 março 2013

O vrum que me levou ao passado





O sol ainda estava sob as cobertas, mas eu, madrugador que sou, já estava de pé na frente da geladeira pegando um pacote plástico com pão de forma. Ouvi, do quinto andar, o barulho da moto do entregador de jornal. – VRUM.

No mesmo instante, como um flash, lembrei tempos antigos. Salivei pão francês e leite fresco.

Eu explico: o padeiro, no alvorecer do meu passado, pilotava uma lambreta verde com um baú de madeira. Parava na frente de quase todas as casas. Sabia de cabeça quantos filões, pãezinhos, roscas e litros de leite deveria entregar em cada casa. Entrava, deixava as garrafas de vidro e tampa de alumínio ao lado dos saquinhos de papel e retornava apressado.

Os sons que eu ouvia da minha cama, na infância, ainda reverberam na memória.

Primeiro ouvíamos ao longe o liga e desliga da lambreta se aproximando até chegar sob a nossa janela. Depois de embrulhar os pães mornos ouvíamos a tampa fechando barulhos no baú. – POW! Em seguida os passos corridos – TOCTOCTOCTOC – ecoando no quintal até a caixa protegida do tempo. Dois segundos depois retornava de mãos vazias, com os mesmos passos sonoros – TOCTOCTOTOC. Batia o portão de ferro – CLANC – e ligava a moto se afastando alguns metros até o próximo vizinho. – VRUM.

Hoje, devolvi o pão de forma à geladeira e caminhei silencioso até a padaria em busca de um sonho.

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