03 janeiro 2013

Ressaca do réveillon



O ano recém começara e nos encontramos num barzinho para reabastecer o tanque que já estava na reserva.

Nós éramos em cinco embora Lúcio afirmasse sermos nove e Toninha apostar no número sete.

– Então vamos contar de novo. – sugeri. – Neco, Paulinha, Lúcio, eu, Zé e Toninha.

Lúcio bateu a mão na mesa. – Eu num falei! Somos sete!

– Peraí! Pediu a Toninha. – Exijo recontagem. A gente começa com a Paulinha para não contar duas vezes.

O Lúcio apontou para a Paulinha e depois foi seguindo o dedo para o lado e todos, em coro, contaram.

– Um , dois, três , quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze...

Neco interrompeu a contagem.

– Para. Para. Para. –Tu apontou para o pessoal da outra mesa.

– Tão sentados na outra mesa. Mas quem não conhece a Lili, o Paulão e a Fê e os outros quatro que estão com eles?

Interrompi com autoridade: – Aquela não é a Fê. A Fê tem uma boquinha carnuda deliciosa. Essa á a irmã dela. Ainda não sei se a boca carnuda é deliciosa. E tem mais, além da Lili, do Paulão e da irmã da Fê são só mais dois e não mais quatro.

– Bora contá de novo – sugeriu Neco.

Vamos não, – cortou Toninha. – hoje é dia de prometer, comprometer, de se engajar nas promessas. Assumir responsabilidades. Esquecer medos. Anunciar um projeto para melhorar o mundo.

Lúcio ergueu o copo num brinde às palavras da Toninha e perguntou qual era a sua resolução salvadora para o ano nascente.

– Vou pintar meu cabelo. Serei loira. Serei a loira mais gostosa do planeta.

Lúcio sem desmentir a gostosura da Toninha: – Mas o seu cabelo já é loiro.

– É que eu prometo retocar de 15 em 15 dias. E tu Lúcio, o que vai ser?

– Caraca, nem pensei. Acho que eu tenho que terminar a faculdade.

O garçom, de passagem, pensou que deveria cobrar os dez por cento antes de o pessoal começar a beber.

A Lili, sem ser perguntada, ajeitou os peitões no decote e disse que a sua resolução era não mais usar calcinha quando estivesse de vestido.

Paulão, lá da outra mesa, levantou-se com olhar vermelho e sedento:

– Eu prometo solenemente, para quem quiser registrar em cartório, que neste ano, semana a semana comprarei uma saia para a nossa querida Lili.

A irmã da Fê beliscou o Paulão na barriga.

Paulinha cutucou o Neco que já estava com o tanque cheio.

– Eu prometo que vou começar a procurá emprego.

– Essa é velha. Não pode. Mande outra.

– Tá bem. Prometo bebê menos.

O garçom palpitou que o Neco poderia ao menos prometê pagar suas contas.

Olhei em volta. Todos os cinco, ou sete ou nove já haviam externado decisões para o novo ano. Era a minha vez.

Eu já estava tomando água há duas horas. Disse que tomara a resolução firme e forte, encantava a vida ou desencantava a morte. Iria acabar com meus cabelos brancos, extinguir a barriga, eliminar as rugas da face. Minha decisão é irreversível: vou rejuvenescer.

3 comentários:

Angela Ottoni Delgado disse...

Engraçada a crônica, mas, não pinte os cabelos. Homem de cabelo branco é o maior charme!

Klotz disse...

Obrigado. O personagem jamais pintará o cabelo. Ele irá rejuvenecer gradualmente. Deixará de usar óculos, por exemplo. VAi sarar dos males da gota, da insônia. Os joelhos dobrarão sem estalar. Quando estiver cheio de saúde talvez até volte a fumar - hahahahaha

Angela Ottoni Delgado disse...

Não faça isso (rs).
Voltei só pra dizer que há novidade no blog
www.bisous-angela.blogspot.com e acho que vai gostar.

 
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