30 novembro 2012

Jogo de palavras

Um dia me explicarm um jogo com vários participantes, ao redor de uma mesa, em que alguém com o auxílio de um dicionário escolhe uma palavra e anota o seu significado.
Todos são instados a sugerir o significado da palavra escolhida.
Aquele que chegar mais perto ganha um certo número de pontos. Se nenhum acertar, ganha alguns pontos aquele que sugerir o significado mais criativo. 

Independentemente de estarmos sentados ao redor da mesa, ou na frente de um teclado, selecionei nove palavras e sugeri alguns significados. Será que você acerta? Só uma resposta é verdadeira.
Diga quantas acertou. Sugira um significado criativo.Ou proponha outras palavras.

bródio


a) Refeição alegre

b) Irmão

c) Bolinho de arroz com espinafre.

d) Espécie de tecido fino de algodão

e) Que perdeu a razão, alienado



chibante

a) Porção de um todo

b) Valentão

c) Aquele que sela a montaria

d) Rédea muito curta; rédea chibante

e) Chute dado com o lado de fora da chuteira



colubrina

a) Instrumento musical de sopro

b) Construção circular

c) Antiga espada

d) Amásia, amante

e) Dançarina de bordel – Portugal



farândola

a) Designação comum a insetos como o cupim e a traça

b) Talo de capim seco

c) grupo de maltrapilhos

d) Aranha australiana

e) Corante obtido de insetos vermelhos



férula

a) Volúpia, lascívia

b) Secreção oleosa de palmáceas

c) Parte exterior, casca, crosta

d) Odor característico dos felinos

e) Palmatória



marau

a) Caverna, gruta

b) malandro, patife

c) Gordo, obeso

d) Navegador

e) Pequeno machado



mofatra

a) Eixo da roda de moinho

b) Disputa, peleja

c) Moldura de ornato de janela ou porta

d) logro

e) Utensílio do minerador de diamantes



patranhas

a) História mentirosa

b) Indivíduo mal intencionado

c) Conjunto de casas destinados aos escravos

d) Tira gosto à base de alho

e) Pessoa sem poderes



púcaro

a) Pessoa de mau caráter

b) Penhasco

c) Nuvem que antecede tufões

d) Órgão sensorial olfativo

e) Pequeno vaso com asa








Não vale olhar a resposta antes de tentar...


bródio - Refeição alegre; comezaina: Pândega, bagunça, barulho. Opíparo bródio

chibante - brigão, valentão; Orgulhoso, altivo, soberbo. Pessoa chibante. Ex: crioulo chibante

colubrina - Antiga espada; (colubrina sem raia = espada sem fio)

farândola - grupo de maltrapilhos; farandolagem; bando de indivíduos de má fama

férula - Palmatória (por semelhança a um de gênero de plantas)

marau - Mariola, malandro, patife; Indivíduo espertalhão, astucioso, finório, que não se deixa enganar.

mofatra - logro

patranhas - História mentirosa; história; patranhada: "Ele põe-se lá a inventar patranhas”

púcaro - Pequeno vaso com asa; qualquer vaso pequeno com asa; caneca



25 novembro 2012

Os enamoramentos



Javier Marías

Editora Companhia das Letras – 2011

344 páginas

Paguei: R$ 50,00

Observação: a editora colocou dois livros dentro de uma sobrecapa.



É muito comum que o autor de um romance cite, mencione ou até escreva um capítulo se referindo a algum outro livro. Geralmente o livro mencionado é de alguma história que todos conhecem. Neste caso, a referência é a um livro de um grande autor e cuja história foi filmada pelo menos duas vezes. Mas não é de domínio público. O autor de Os enamoramentos não apenas citou, porém fez do conteúdo de Coronel Chabert um personagem importante para a história. Logo, se você pretende ler Os enamoramentos, deve, antes, ler o fabuloso texto de Honoré de Balzac.

O título e a capa sugerem que seja um romance açucarado. Já passado da metade da história, explica que o termo enamoramento em espanhol tem uma conotação inexistente em outras línguas, que difere de amor. Pode até suplantá-lo. Que embora se confundam, não são a mesma coisa. “O que é muito raro é sentir um fraco, verdadeiro fraco por alguém, e que esse alguém produza em nós essa fraqueza, que nos torne fracos. Isso é o determinante, que nos impeça de ser objetivos e nos desarme perpetuamente e nos leve a nos render em todas as contendas.” Em um clichê, o amor cega e por um amor desses somos capazes de qualquer sacrifício. Até morrer ou matar.

Mariá Dolz é a protagonista e narradora da história de pouquíssimos personagens. Involuntariamente conhece um casal que desjejua no mesmo café e que ela, durante muito tempo, costumava observar com admiração. Ou melhor, ela conhece apenas a mulher do casal. Ele foi brutalmente assassinado alguns dias antes.

A história se desenvolve de tal maneira que Mariá, novamente sem intenções, conhece toda a história por trás do homicídio. E, numa citação de um advogado do livro de Balzac “Sempre foi assim. O número de crimes impunes supera largamente o dos punidos; e não falemos dos ignorados e ocultos, por força deve ser infinitamente maior que o dos conhecidos e registrados.”

Eu gostei do livro. Mas com restrições, pois o autor é prolixo e repete e revive e remói e reconta a mesma passagem sob os mais diversos ângulos. Tanto que em determinado capítulo uma personagem leva oito páginas à porta para se apresentar e convidar o visitante a entrar na sala.

Para quem gosta de uma discussão de relacionamento, daquelas em que a mulher fala ininterruptamente, é um prato cheio.

Em tempo, o autor, conforme a orelha, publicou mais de 30 livros, foi traduzido para mais de 40 idiomas (acredito que queriam dizer vendido em mais de 40 países) e vendeu mais de 6 milhões de exemplares.

23 novembro 2012

Ainda quero almoçar com Veríssimo muitos domingos


Fui dormir triste e acordei ainda triste. O noticiário noturno informou que Luis Fernando Verissimo está internado em estado grave. Suspeita-se que virose alimentar tenha provocado infecção generalizada.

Alguém desconhece Verissimo?

Para ajudar quem é de outro planeta, ele disse, por exemplo, que “Só acredito naquilo que posso tocar. Não acredito, por exemplo, em Luiza Brunet.” E também escreveu O Analista de Bagé, Comédias da Vida Privada, As mentiras que os homens contam.

Nas imagens sempre o vemos com uma camisa social clara, às vezes com um paletó. O rosto redondo, as sobrancelhas espessas e ligeiramente caídas nas laterais, os óculos de aros transparentes, a testa grande, a fala pausada e gestos comedidos nos remetem a um tio querido. Uma pessoa que gostaríamos de ter à mesa nos almoços domingueiros.

Como sempre numa churrascaria.

Ele se serviria da salada. Regaria com azeite (do bom), salpicaria um pouco de sal, moeria uma pimenta-do-reino para temperar alguma reflexão. Ficaria em silêncio até o minuto anterior ao gole na taça do tinto seco.

– Saúde! –- Num olhar cúmplice para a esposa.

Depois do brinde voltaria ao silêncio ou às palavras discretas, inaudíveis aos comensais mais afastados da ponta.

Talvez fizesse alguma observação sobre comida antes essencial e agora proibida por organizações médicas. Talvez comentasse uma letra de Lupicínio. Só falaria de futebol se nenhum colorado tivesse sido convocado para a seleção. De Charlie Parker reverenciaria os improvisos. Jamais faria piadas ou trocadilhos, somente observações originais.

Fiel à família, vai à churrascaria pela companhia. O médico o proibiu as carnes vermelhas.

É comedido na hora de servir do bufê. Gosta dos tomates cereja, mas evita as frases longas. Repele as cacofonias e se serve de dois talos de aspargos. Rejeita a cumbuca de lugares comuns, torce o nariz para a travessa de ideias clichê e escolhe três cogumelos cozidos, uma colherada de ervilhas e num único momento se permite ao óbvio: dois pedaços de frango grelhado. Por cima de tudo, uma generosa colherada de bom humor.

Já sentado com o guardanapo no colo, mastiga devagar. Os olhinhos pequenos se movem com rapidez. Enxergam tudo. Observam o desenho da mancha da toalha da mesa, leem a marca do teclado do músico cego, apreciam a transparência do vestido da mulher que passa em frente da porta aberta. Enquanto isso as orelhas são grandes antenas que captam o chiado da carne assada, escutam cochichos à mesa vizinha e ouvem um natureba contar até 32 enquanto mastiga.

Tudo isso pode virar uma crônica. Ou não. Assim como o psicanalista não analisa todas as conversas de que participa, o escritor não escreve tudo o que acontece à sua volta.

O almoço só termina com a sobremesa. Diabético que é, rejeita o pudim de leite, o queijo com goiabada e a ambrosia. Nem pensa duas vezes, vai direto no prato com fechamento inusitado..

Fique bom logo, querido mestre, ainda quero almoçar com você muitos domingos.


15 novembro 2012

O coronel Chabert



De Honoré de Balzac

Em 83 páginas impressas pela Companhia das Letras

Paguei R$ 50 porque vinha embrulhado numa sobrecapa junto com o livro Os enamoramentos.



Honoré de Balzac é um dos grandes nomes da literatura mundial. É um daqueles para os quais os “cult” estufam o peito antes de reverenciar o nome. Li no Wikipédia que ele teria escrito 88 romances, novelas e contos. Até aí nenhuma vantagem. Somando apenas os contos e crônicas dos meus três livros já tenho uns 150. A diferença (ligeiríssima diferença) é que o moço com o nome francês é considerado o fundador do Realismo na literatura moderna. Entre outros vários, escreveu a Comédia humana, um dos cem melhores livros incluído em todas as listas dos melhores da literatura universal. Que é muito mais que os cem melhores da literatura mundial. O cara influenciou gente da grandeza de Proust, Zolá, Dickens, Dostô, Flaubert e até do nosso mestre Machado. Ah sim, os tais 88 romances, novelas e contos estão contidos na Comédia humana que é um verdadeiro estudo de costumes e filosóficos a partir da observação do homem no seu tempo e esse estudo foi eitado pela Globo resultando em 17 volumes.

Eu não li os 17 volumes, nem algum dos outros vários livros publicaos, mas agora já posso estufar o peito, revenciar o nome de Balzac e exlclamar: eu li e gostei.

Eu li apenas um livrinho de 83 páginas que acompanhou a edição de Os enamoramentos de Javier Marías.

Livrinho no tamnho, enorme no conteúdo. Balzac, escreve muito!

Trata do reaparecimento de um coronel que foi dado como morto numa batalha napoleônica. Sua viúva herdou uma grande bolada, casou de novo e não quer mais saber dele. Ele procura um advogado para reaver a sua grana, identidade e lugar na sociedade. O drama esmiúça o caráter de cada um dos personagens com profundidade, elegância e revelações que todos preferiam deixar sepultas no fundo da alma. Sobra para todo mundo. Pois afirma que “em Paris, muitas mulheres vivem com um monstro moral desconhecido ou estão à beira de um abismo; elas criam um calo no lugar da sua dor e conseguem continuar a rir e se divertir.”

Terminei de ler o livro às 5h59. Exatamente um minuto antes de o despertador tocar dizendo que eu precisava levantar.

Mais ou menos na metade da novela assinalei alguns trechos fortes sobre as características da viúva do Coronel Chabert imaginando que seriam peças fundamentais para o desenlace. Quebrei a cara. A história não tem um fechamento espetacular. É muito mais que isso. Mostra, numa espácie de lição de moral, a grandeza interna do coronel.

Passei o dia com sono, mas maravilhado com o livro.

 
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