08 junho 2011

Alegria para os cronistas brasilienses


O Crônicas da Cidade vai acolher textos produzidos por cronistas do jornal e por cronistas-leitores. As crônicas devem ter como objeto de inspiração a capital do país, o modo de vida dos brasilienses, os invisíveis viveres cotidianos, as mudanças de humor do céu, os sufocamentos de agosto, os sabores, odores, tremores e dissabores da cidade que tantos amam e que tantos não conseguem entender e vivem de maldizê-la. – CB, Crônica da Cidade, 08/06/2011.



Antes mesmo do jornal ser entregue na minha porta, a serra elétrica da construção vizinha já atazana meu começo de dia. Como vou passar manteiga e tomar o meu o café com um barulho desses?

Todas as quartas-feiras começam assim. Apocalipses cíclicos, zumbidos infernais, tempestades zodiacais.

Há 40 quartas-feiras me proponho a escrever um texto bem-humorado motivado por uma matéria publicada no jornal durante a semana. Deve ter exato número de caracteres e ser publicado no meu blog antes das seis da tarde.

Esta manhã de quarta-feira começou rápida nos ponteiros do relógio. Nada recortei durante a semana. Ainda não escolhi o tema. Preciso encontrar um mote no jornal de hoje. Política? – Não, ninguém se interessa por políticos. Internacional? – Não. Penso que os leitores preferem temas locais. Economia? – Basta de inflação! Tecnologia? Saúde? Ciência? Esportes? – Já falaram tudo sobre o jogo de despedida do Ronaldo, não há nada para acrescentar. – Ai meu deus! – Li mais um caderno e ainda não fui balançado por uma notícia. Cidades? – Gosto do caderno, sinto-me em casa. Cassação da deputada? Caixa de Pandora? Social? Celular para controle de freqüência nas escolas? – Hum, muito interessante. Atropelamentos e greve de ônibus, são notícias ruins, difícil fazer graça. Crônica da cidade? Um blog para os cronistas. – Um blog para os cronistas? Uêba! Tudo o que eu sempre quis!

A serra elétrica parou. O apocalipse montou seu cavalo negro e saiu a galope. O céu se abriu para a motivação para escrever nesta e em várias outras quartas-feiras. Agora basta ajustar o teclado à frente e digitar com entusiasmo.

A cidade ferve de cronistas ansiosos por um lugar nobre para expor escritos e uma voz grita:

– Levante o dedo quem quer escrever no Correio.

Meus dois indicadores apontam para o céu. Lá no alto encontram outras dezenas de mãos frequentadoras de saraus, blogs e oficinas literárias. Todos os escritores são ávidos por leitores.

Só que o tempo do cronista corre mais rápido que o dos outros mortais: precisa entregar o texto antes de terminar o prazo.

Quero entregar logo meu trabalho para ser dos primeiros a ter um texto publicado no blog. Tenho pressa. Baixo meus dedos e os agito sobre o teclado.

Enquanto os dedos dançam no palco das letras, a mente conta e confere o número de letras, espaços e parágrafos previamente estabelecidos pelo editor. O sorriso de realização chega junto com ponto final. A serra elétrica só voltará na outra semana. Um bem-te-vi anuncia a chegada de outro texto.

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