25 janeiro 2011

Ingleses brigam seis dias por semana


312 é a quantidade média de brigas que os casais têm por ano, segundo pesquisa britânica que ouviu 3 mil pessoas. Eles se enfrentam principalmente às quintas feiras, por volta das 20h. Os motivos incluem deixar a tampa da privada levantada e espalhar toalhas molhadas pela casa. CB – Tubo de ensaio, 22/01/2011



Sob a densa neblina é impossível enxergar os ponteiros do Big Ben, entretanto o som das sete badaladas é audível a grandes distâncias. Assim como não se enxerga dentro das casas londrinas, é possível escutar a, digamos, conversa do casal que acabara de sentar-se para desjejuar.
— Meu bem, o café está frio!
— Frio está você, atrás desse tablóide cheio de letras pretas.
— Isto não é um jornaleco qualquer. É o Daily Mirror. E aqui diz que os ingleses só brigam 312 vezes ao ano.
— E qual é o problema?
— É que você, darling, parece querer esgotar a nossa cota anual num único dia.
— Deixe de bobagem, Charlie, são apenas ajustes normais que um casal tem de fazer para viver em prazerosa concórdia.
— Que os nossos vizinhos não escutem, mas você já reclamou que não levantei a tampa do vaso, que deixei a toalha molhada sobre a cama, que não dei a descarga e... está resmungando o tempo todo.
— Você não fez por menos! Reclamou dos meus cabelos no ralo do chuveiro, da calcinha pendurada na torneira, da luz acesa no banheiro...
— E você, lady, ainda chama isso de ajuste?
— Está bem, é só uma pequena discordância multitemática.
— Uma discussão interminável para azucrinar o meu dia.
— Foi bom você lembrar. Estamos atrasados. Termine seu café e ponha o lixo para fora.
— O café além de frio, está horrível. E a lixeira está cheia além da capacidade. De novo!
— Por mim, eu ainda acerescentaria esse seu casaco velho e encardido.
— Você implica, só porque foi a minha mãe que deu ele para mim. Você esta indo para o quarto? Aproveite para trocar a sua blusa que está manchada.
Ela lançou um olhar fulminante, virou as costas e sumiu no corredor.
Nada como oponentes afastados um do outro por um tempo. Alguns minutos de silêncio, quando as pessoas se amam, podem trazer a harmonia e a paz duradoura.
Ele retorna o diálogo com palavras de carinho:
— Benzinho! Onde estão as chaves?
A resposta foi imediata.
— Pra que chave? Vendemos o carro na semana passada. Se lembra?
— Como a gente sai de casa sem abrir a porta?
O inimigo sentiu o golpe. Fez-se silêncio. Um silêncio para mudar a estratégia e preparar o contra-ataque.
Ouviu-se uma gaveta fechada com violência. Depois outra gaveta fechada com mais violência. Barulho de coisas arremesadas ao chão. Um palavrão resmungado. Depois outro palavrão.
Ann saiu do quarto e foi em direção do pobre Charles com os olhos faiscando ódio e suplicando compaixão.
Londres, Manchester, Liverpool, Birmingham e todo Reino Unido escutou o grito que veio cortante como o de um corvo no cemitério.
— Eu não tenho nada para vestir!

Ainda bem que isso só acontece na distante Inglaterra.
Meu Deus do céu! Eu nunca vou me casar com uma inglesa.


Outro texto com motivação em notícia publicada durante a semana no Correio Braziliense.

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