25 junho 2010

Apolo também girou



Sou robusto quando comparado aos meus colegas de trabalho. Não costumo tomar iniciativa, mas quando me dão pilha vibro com o meu ofício.
Passo os dias trancado no escuro da segunda gaveta do criado-mudo. É um lugar privilegiado para escutar o que acontece na cama ao lado. Apesar da minha origem chinesa, ouço e entendo tudo. Às vezes falo, como agora.
— O casal gay até que se entende bem para um casamento de interesses. Ele é um industriário bem sucedido e acredita que perderia o respeito se a diretoria soubesse das suas preferências sexuais. Enquanto isso, ela é descompromissada com as aparências. Tanto que, naquele dia fatídico, para atender a uma fantasia sexual da vizinha, a encontraria no banco vestindo uma ridícula roupa de faxineira. Sorte a minha fazer parte do ménage à trois. Eu estava escondido na sacola de compras.
Respiro fundo para continuar a história.
— Aquilo foi muito constrangedor. A porta giratória travou e ela teve que mostrar o que trazia na sacola. Ao contrário das outras vezes, senti a mão insegura me levantando. Ela explicou que eu era um simples massageador. Nunca fui tão humilhado! Quando estamos em momentos íntimos ela me alisa, acaricia, beija com prazer. A própria vizinha, também tão carinhosa, percebendo a falta de consideração comigo, se escondeu atrás do pilar. E o marido, aquele abobalhado, viu tudo e não me defendeu. Logo ele que me idolatra e me chama de deus grego.


Apolo era o deus da beleza, da perfeição, da harmonia do equilíbro e da razão.
Apólogo é uma narrativa em que figuram seres inanimados, dotados de palavra.

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