05 agosto 2009

Tomates educativos


Não. Não. Não! É preciso dizer não. Deveria ser obrigatório negar. Deveria ser imperativo proibir. Dizer não é ensinar, é educar.

Ontem fui ao supermercado para comprar frutas e legumes. Quando cheguei à gôndola dos tomates, uma senhora gorda e sem modos ocupava todos os espaços em movimentos rápidos e loucos, atirando os tomates rejeitados em todas as direções, impedindo que qualquer outro cliente se aproximasse. Totalmente à vontade, sem a menor consideração, a mulher jogava frutos nas pessoas e no chão. Ao redor, havia pelo menos cinco incrédulos consumidores que, num misto de espanto e riso nervoso, reprovavam a atitude silenciosamente. Pasmado, juntei-me a eles.

Um garoto de uns dez anos se aproximou, tentou pegar um tomate e quase levou um bofetão. Na mesma hora, sem pestanejar, pegou um dos tomates lançados ao chão e atirou na testa da balofa senhora.

Todos aplaudiram a atitude do menino. Só aí a gorda parou com os gestos agressivos, egoístas e desrespeitosos. Fez um muxoxo de desprezo e virou-nos as costas como se ela é que fosse a grande vítima do episódio.

A platéia recolheu os frutos do piso, recolocou na gôndola e, de forma civilizada, cada um escolheu aqueles que considerava os melhores. Depois o mundo voltou a ser aquilo que sempre fora.

Será?

O meu carrinho já estava pela metade. Detergente, lustra móveis, sabão. Desodorante, pasta dental, algodão. Açúcar, óleo de soja, feijão. Laranja, abacaxi, melão e tomate.

Os tomates tiraram meu ritmo.

A partir daquele momento, só pensei no nosso caos de cada dia. Ainda há pouco, vi duas pessoas disputando a mesma vaga no enorme estacionamento. Adiante, uma zelosa mãe pegou uma maçã, esfregou na própria roupa e ofereceu ao filhinho choramingão. Depois, observei um moço retirando um bombom de um pacote fechado. Ele ainda me perguntou, de boca cheia, se eu também queria um, antes de jogar o papel no chão. Ninguém é advertido, ninguém é punido, ninguém passa constrangimento. Tudo é feito à vista, sem nenhum acanhamento.

Estes pequenos delitos, faltas e desvios, na verdade, grandes absurdos, parecem ser bem absorvidos pela nossa sociedade. Eles são terríveis quando praticados pelos outros. Teoricamente, nós podemos, nossos filhos podem. Nada proibimos aos nossos. Este é o nosso problema: a impunidade.

Falta educação! Precisamos educar a nossa sociedade como um todo. O sistema está podre na base. Pai e mãe por precisarem trabalhar o dia todo, estão ausentes na educação dos filhos. No pouco tempo de convívio, preferem ser amáveis e gentis a serem duros e rigorosos nos valores éticos e morais. Relaxam a guarda e são totalmente permissivos em todos os atos dos filhos. Os filhos crescem e já não há mais como retomar alguma autoridade. Por necessidade, repassam a educação dos filhos para a escola. Infelizmente os professores estão despreparados para educar e lhes é negada a autoridade para isso. Cabe aos professores apenas a obrigação de ensinar as matérias curriculares. Aos alunos não são colocados limites. A garotada tudo pode.

O problema é mais grave porque não me refiro apenas à atual geração. Isto já acontece há muito tempo. Temos toda uma sociedade permissiva. Ninguém proíbe. Quando há proibição, não há punição, logo, há desobediência.

As autoridades não servem como exemplo.

Marginais, políticos e bandidos de colarinho branco têm a certeza da impunidade.

Hoje, com o menino do supermercado, aprendi uma grande lição. Não ficarei mudo e omisso frente à impunidade. Eu, ao menos, farei justiça com as próprias mãos.

A partir de agora, sempre terei uma sacola cheia de tomates maduros. Estarei pronto para acertar a testa dos incautos que atravessarem um sinal vermelho, que estacionarem em fila dupla, que fumarem dentro do elevador. Também haverá tomates para artistas que atrasarem espetáculos, para os responsáveis pelos buracos da rua, para os responsáveis pelo mau atendimento médico, para o cambista na porta do estádio, para os jornalistas omissos, políticos corruptos e empresários corruptores.

Acredito que este esporte pode até ser divertido e virar mania nacional. Pisou no tomate? Leva tomatada! O mundo vai ficar vermelho.

Quando acabarem com os tomates, será a vez das berinjelas, pepinos, jilós e repolhos. Até consigo imaginar o repórter do jornal televisivo ameaçando com um maço de aipo na mão.

Começarei amanhã mesmo. Irei munido ao banco. Sabe o que pode acontecer se eu for atendido após 15 minutos de espera?

Começarei amanhã mesmo. Irei munido ao banco. Sabe o que pode acontecer se eu for atendido após 15 minutos de espera?

Em represália, todos da fila e funcionários também jogarão tomates em mim.


 
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