02 fevereiro 2008

Lâmpada mágica dos meus sonhos

Abaixei-me para pegar a lâmpada. Parecia vinda dos sonhos do oriente. Nunca tinha visto um objeto assim, só em filmes, desenhos animados ou livrinhos infantis com histórias mágicas. A forma da lâmpada sugeria cruzamento de bule com açucareiro de latão.
Essas coisas só acontecem comigo!
Olho em volta para conferir se não há ninguém olhando para mim. Isso está parecendo um trote. Qualquer mortal que eu conheço se encheria de sonhos e desejos, esfregaria a lateral, levaria um susto como o mago esfumaçado imaginário e teria o direito de formular três pedidos por libertar o gênio aprisionado por dois milênios.
Imagine se eu iria me dar ao trabalho de ficar elucubrando bobagens como essa?
Caminhão de dinheiro? Mulheres? Uma viagem ao redor do mundo? A paz entre os homens? Eternidade? Não, eu não vou perder tempo com isso. Ainda tenho algumas coisas para fazer antes do sol se por. A primeira é me desviar desse monte de meninos zunindo de bicicleta pela calçada.
Essa lâmpada vai ficar bonita em cima da cômoda na sala. Combina bem com o porta incenso e a caixinha de marchetaria. A quem perguntar, contarei que a ganhei de um xeique árabe por ter vencido uma corrida de camelos.
Olhando a lâmpada vejo que ela está bem sujinha. Está precisando de um polimento antes de ter o direito de ser defumada pelo incenso.
– Você que está lendo, já estava adivinhando que eu iria esfregar a lâmpada. Não é verdade?
Cinco passos adiante comecei a limpar a lâmpada com a barra da camisa.
– Pergunto a você, leitor, o que aconteceu?
Ouvi uma voz atrás de mim. Uma voz infantil, uma voz de menino.
Atrás de mim estava um garoto de uns dez anos de idade com um turbante na cabeça.
– Oi vô. Que bom que você achou minha lâmpada. Ela caiu da bicicleta.
Olhei desconfiado para aquele turbante carnavalesco.
– Bicicleta? Cadê a sua bicicleta menino?
– Tá ali, ó! Devolve a minha lâmpada.
O menino falou com tanta convicção que entreguei o objeto e os meus sonhos infantis.
O garoto pegou a lâmpada e voltou em direção da bicicleta.
Retomei o meu caminho debochando os meus absurdos devaneios. Onde já se viu uma lâmpada idiota provocar tantas fantasias. Melhor assim. Voltar ao meu caminho, à minha realidade.
Enquanto o velho caminhava para um lado, o garoto com a lâmpada na mão, voava no seu tapete para o outro lado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fantástico. Texto cheio de magia. A dualidade da realidade do adulto com a fantasia da criança. Ou vice-versa... Muito legal. Prendeu minha atençao. Valeu

 
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