16 janeiro 2007

A Picape


– O casal foi lá em casa na hora do almoço. Confirmei que a minha camionete era de cabine dupla. Entraram e minha esposa ainda ofereceu aos dois um doce de abóbora com coco. Célia aceitou e as duas mulheres ficaram conversando enquanto nos dirigimos ao térreo onde a picape estava estacionada. Fazia muito calor e lembro-me de que no elevador o Fernando perguntou se a picape tinha ar condicionado.
– E depois?
– O Fernando examinou detalhadamente a pintura, procurou diferenças de brilho, observou se as frestas das portas e capô estavam uniformes. Abriu o porta-malas e confirmou que a lataria não sofreu nenhuma avaria. Quando examinou o motor comentou que não gostava quando o motor era lavado, pois ocultava possíveis vazamentos. Percebi que os olhos dele brilharam quando viu a quilometragem. Eu ainda disse que eram 28 mil quilômetros de asfalto da cidade e de uma única e maravilhosa viagem percorrendo todo o nordeste em lua-de-mel.
– Aí, o Fernando virou a chave e ouviu o ronco do motor diesel. Ele fechou a porta, abaixou o vidro e perguntou se a rua à frente era de mão para a esquerda ou a para direita. Engatou a primeira e saiu lentamente.
– E a senhora, dona Andréia?
– Fiquei ouvindo a Célia me contar que o Fernando era uma pessoa muito querida. Que eles passaram a noite em claro se amando loucamente e hoje, pela manhã, juntos, fizeram compras no shopping. Ela tinha ganho aquela blusa e a calça que estava usando. A bolsa também era nova para combinar com as sandálias. Ela estava eufórica porque o Fernando iria apresentá-la para a família dele e gostaria que ela estivesse maravilhosa. Até um relógio ela ganhou.
– E o que mais?
– Ela disse que estava apaixonada pelo Fernando, que ele tinha muito gosto e que escolheu pessoalmente aquela blusa. Ela disse que deveria ter um decote atraente porém sem ser vulgar. Que detestava vulgaridades.
– Como foi que a senhora, dona Célia, conheceu o senhor Fernando?
– Eu me formei em pedagogia e não consegui encontrar emprego. Trabalhei como secretária num escritório de advogados por seis anos, fiquei desempregada e resolvi ganhar dinheiro da mesma forma como paguei minha faculdade. Coloquei um anúncio no jornal e foi daí que o Fernando me ligou.
– Então a senhora conheceu o Sr. Fernando ontem à noite, fizeram um programa, foram às compras, aposto que acabaram com um talão de cheques furtado, e depois escolheram a picape do nosso amigo depoente.
– É, seu delegado, é por isso que acho que o desgraçado não volta mais com a minha caminhonete! – Exclamou furioso o ex-dono da caminhonete.

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